quinta-feira, março 23, 2006

Igha Ara


“Ao nascer foi marcada pela contemplação, Igha Ara, Pôr-do-Sol, foi o nome que lhe deram e que Igara respeitou até morrer!”

Igara vivia entre os seus. Viveu lá muito tempo. Mas o seu coração já há muito se perdia em sonhos e em voos (mais altos que o próprio Sol), que iam muito além da sua tribo. Pediram-lhe os seus, que fosse buscar o seu espirito que andava alheado, ausente. E ela partiu!! Partiu numa noite, sem que ninguém desse conta, partiu como a brisa que passa, ou com a própria brisa...não sei ao certo. Sei que caminhou rumo ao seu sonho “O Mar”!

Deve de ter caminhado dias sem conta e sei que embarcou clandestina, num barco cheio de emigrantes.João era um homem fechado. Havia no seu rosto traços marcados pelas lides do mar. Era homem de poucas palavras. Ninguém sabe o que aconteceu naquele barco...mas talvez o silêncio os unisse tanto, que João decidiu tomar conta de Igara (por certo o silencio os uniria...mas eu gosto de pensar que existia também Amor!).

João levou-a para a sua terra, também junto do Mar, mas afastou-a do povoado. Levou-a para uma pequena gruta, conhecida por poucos, longe da curiosidade de todos! Muitas vezes Igara era vista a contemplar o Mar, por entre as escarpas dos montes, mas todos se mantinham afastados da “muda” como se ela fosse um mau presságio!Mas era verdade, Igara permanecia fechada e muda, a tudo o que não fosse João e o seu Mar. Igara tecia, urdia, cardava, cultivava e no escuro da noite, caçava. Muitos viviam apavorados coma s sombras nocturnas, que vagueavam nos pinhais, nos campos mas que se acalmavam sempre junto á praia.

Tenho em mim a crença que Igara continuava ainda a sonhar...a vagar...perdida na imensidão do mar!

Vivi, neta de Igara, a pessoa que me criou, a quem eu teimosamente chamava Titi (tal como Igara insistia), falava-me dela vezes sem conta. Eu sorvia cada palavra como se se tratasse da minha Estrela.Ainda hoje, penso nela muitas vezes!
Penso nela...quando observo o Mar que tanto Amo!
Penso nela...quando o Sol se esbate no Horizonte!
Penso nela...nos momentos em que fico muda, envolta em pensamentos que me perturbam!Penso nela...quando olho para os meus filhos e me sinto, por eles num olhar, prisioneira de Alma!Penso nela...quando busco em Sonhos, realidades que não possuo!
Gosto de pensar que existe em mim, algo em bruto...algo que é selvagem e livre!
Algo que me faz voar com as minhas asas buscando sempre o meu querer!
Algo que me permite expressar Amor, sem recurso a outra coisa que não sejam as palavras!Gosto de pensar, que a vida é curta, e que por isso tem que ser vivida intensamente, segundo a segundo, com a força e entrega do momento derradeiro!
É por isso que não me calo nas palavras, e que direi que amo, a cada toque que a minha Alma sentir!

segunda-feira, março 20, 2006