Há dias difíceis na vida de uma pessoa. Ooooh se os há, e decididamente, hoje é um dia difícil. Acordei, com um telefonema a meio da madrugada. Como é óbvio, acordar ás 3 da manhã com o toque do telefone é de pôr qualquer um com os cabelos em pé. Foi mesmo assim de cabelos no ar, que no meio da atrapalhação de sair do quarto entrei no roupeiro. Lembro-me vagamente de isto já me ter sucedido uma vez, e recordo que esse dia também foi difícil. Bem, depois de ter encontrado a porta do quarto, e enquanto ouvia o telefone, fiz um esforço sobre-humano, para tentar ficar calma. Assim que encontrei o aparelho, quem quer que fosse, desligou o telefone, deixando-me entregue a um misto, de fúria lancinante, e descanso furioso (como pedem ver…a fúria está lá... latente!). Arrastei-me até à sala pensado que quem telefonou ligaria de novo. Peguei no comando da televisão e fiz um mini zaping , saltando de canal em canal, qual sapo, em época de acasalamento. Confesso que já perto das 4h da manhã, estava bastante enjoada (não consigo entender, como se consegue fazer zaping por mais de 30 minutos), decidi então ir fazer um chá de Ervas. Entrei na cozinha sem me lembrar que havia iniciado as limpezas gerais, o que significa que lentamente a cozinha foi ficando cheia de coisas que em circunstâncias normais lá não estariam. Então comecei por tropeçar na enceradeira e seguiu-se, a uma velocidade vertiginosa, um banco de cozinha (que servia de apoio ao pano de pó e ao spray de limpeza), o balde (com esfregona e tudo) e a bacia (que eu insisto sempre em ter por perto em alturas de grandes limpezas, vá-se lá saber para quê!). A minha Sorte é que a cozinha é pequena, e que não deu para mais emoções. Para já estava no chão, finalmente em segurança. Tive vontade de me arrastar até à chaleira, mas pensei para com os meus botões:
- Nã….hoje, já não te vai acontecer mais nada! Já tens a tua dose…relaxa, respira fundo, conta até 10, don’t worry!
Fui à procura das saquetas do chá, pensei que o chá de Tília me traria alguma tranquilidade. Agora sim estava mesmo a ficar mal disposta, e não havia chá de Tília, contei de novo até 10, mas a contagem já não estava a resultar. Cerrei os dentes, disse umas 20 coisas (daquelas que não se dizem), pensei numas 50 iguais a essas, e olhei para as saquetas de chá com olhar de desafio. Estava já muito irada confesso. Estendi a mão e apanhei a primeira saqueta que me apareceu. Fiz um litro de chá e bebi descontroladamente umas goladas daquilo. Achei que começava a ficar calma, e fui bebericando, até acabar o resto do chá. Acompanhei com umas bolachinhas de água e sal, e por volta das 5 da manhã, estava capaz de me ir deitar. De repente, mas assim não sei bem de onde, começou uma dor de barriga que não parava, eu pensei que tinha comido alguma coisa que me tivesse feito mal, e passei revista a tudo o que comera, mas não consegui encontrar um bode suficientemente expiatório, para a minha dor de barriga. Foi então que me lembrei, que na minha última incursão ás prateleiras do super mercado, havia deparado com um chá laxativo, que achei interessante ter em casa, como mezinha de socorro, em caso de necessidade! Pois bem a minha mezinha estava a revelar-se um verdadeiro pesadelo. Como se tal não bastasse o meu marido, que tinha acordado com e telefone e depois com a minha queda monumental, não perdia uma oportunidade de resmungar ainda mais alto que os meus gemidos. Eu gemia e ele resmungava, um dueto perfeito! Quando o despertador tocou, eu estava mesmo capaz de ir dormir, mas não, insisti em dar continuidade a esta minha saga (devo ter em mim uma costela oculta Sadomasoquista), embrenhando-me à séria na arte dos pequenos-almoços e dos lanches dos meus filhos. Preparei a comida de toda a gente (mas eu recusava-me a comer), vesti os meus filhos, arrumei o computador do meu marido, preparei os livros para os meus filhos levarem para a escola, fui apanhar a roupa que tinha estendido, vesti-me, e dei comigo fora de casa, mas com as chaves da parte de dentro. Ou seja, eu estava na rua, mas as minhas chaves não! Aí sim…zanguei-me mesmo à séria! Senti as narinas a abrir e a fechar, senti a respiração descontrolada, e pior que tudo, não senti a mínima vontade de me controlar! Decidi ir a pé para o trabalho, mas ai de quem me perguntasse se eu estava boazinha…é que nem se atrevessem a perguntar-me nada! Foi então, que a deslocar-me quase á velocidade da Luz, cheguei ao meu trabalho. Assim que cheguei, a minha colega de trabalho mais gentil, perguntou-me com um sorriso esparramado na face:
- Estás boazinha?- então passei em revista os acontecimentos dessa madrugada, e esforcei-me por pensar que tudo podia ter corrido muito pior. A noticia do telefonema podia ter sido grave, podia ter tropeçado na enceradeira carregada de cera, podia ter baldeado o balde cheinho de água, podia ter abalroado ao bacia cheia de bugigangas, podia ter tomado um chá laxativo que fosse simultaneamente diurético...enfim....bem vistas as coisas nem foi má de todo!!! Enchi o peito com ar, e num suspiro, respondi-lhe:
-Sim Milúcia, está tudo bem!