Isabel partia assim, tentando deixar para trás as mágoas, os pensamentos, as dores.
Enquanto o velho autocarro rumava a S. Martinho do Porto, ela despedia-se da terra que a vira nascer, e das memórias que queria aprisionar nesse espaço, que tanto a fizera feliz, mas que lhe havia causado tanta dor e sofrimento.
Recordou os tempos de menina, quando buscava o colo de sua mãe, procurando nela mil afectos, deixando-se embalar pelo som cantado da voz que lhe dava segurança e a envolvia em serenidade. Mais uma vez buscou o seu pai no pensamento. Buscou-lhe o rosto moreno, que sempre havia estado presente em tantos momentos da sua vida. Tentou sentir todos os abraços partilhados numa cumplicidade feita de anos. Ele havia sido a sua perda mais recente, ela ainda não conseguia conter as lágrimas, quando o chamava ao pensamento.
Através da janela do autocarro, vislumbrou João.
João tinha sido o seu amigo de sempre. O que tinha convertido o seu pranto em sorrisos, o que estivera sempre presente em todas as suas dores. Aquele que teimava em ficar presente em todos os instantes da sua vida, especialmente naqueles em que as palavras faltam mas onde a presença dizia mais que mil palavras.
Recordava os areais que trilharam juntos, partilhando apenas com as estrelas os segredos da alegria que sentia quando o sabia por perto. Sentia que tinha começado a conhecer a vida pelas suas mãos, tanta era a entrega, tanta a beleza que via nos seus olhos. Os olhos de João, castanhos e amendoados, permitiam que ela conseguisse ver-se reflectida neles. Muitas vezes julgou que eram dela aqueles olhos que brilhavam para si.
Era certo que o amava. Amou-o como menina, quando buscava a sua mão em jeito de desafio e depois corriam juntos, por aquela praia, que parecia infinita. Amou-o como mulher menina, quando buscava em outros homens, aquilo que João não lhe dava, mas que ela sabia fazer-lhe falta. Nessa data, teve a certeza que João jamais a amaria. Soube que ele permaneceria do seu lado como fazem todos os grandes amigos, mas que jamais a procuraria para a fazer sua, de corpo e Alma. Amou-o como mulher, quando desejou que ele a tivesse e partilhasse a sua vida com ela.
Não conseguia definir o quanto amava, sabia no entanto, que João era parte da sua vida.
Foram tantos os dias em que ela imaginou que ela a buscava. Foram tantos os dias em que ela os imaginou juntos numa entrega que apenas os seres que se fundem na Alma conseguem...Foram tantos os dias em que esperou, com o coração nas mãos o seu regresso desse Mar que tanta dor lhe causara. Tantas vezes ao ver surgir ao largo o seu barco, havia agradecido a Deus que o seu João estivesse a salvo...
Enquanto os pensamentos a envolviam, ela chegou ao seu destino. Esperavam-na os tios Fernando e Magda, que a acolheram de imediato, num abraço fervoroso. Ela abandonou os pensamentos e caminhou rumo à sua nova vida, certa, que essa mudança alinharia o seu horizonte, e pintaria os seus viveres de novas cores. Iria iniciar uma nova fase, e estava determinada a ser feliz, era isso que desejava, era isso que iria conseguir para si.
Nesse dia, á hora do jantar, conheceu o David. David, vivia num quarto alugado e partilhava a casa dos seus tios. Rapaz da cidade, de aparência bonita, trajando de forma simples mas cuidada, de conversa fácil e de onde se deduzia uma grande riqueza do saber. Durante esse jantar, depois de feitas as apresentações, os olhares de ambos cruzaram-se algumas vezes. Nos olhos do David visualizavam-se sorrisos, que alternavam com expressões faciais de traçado fino, acentuadas pela tez clara e macia.
Desde esse dia, que se permitiram cumplicidades, nascidas da urgência de partilha que Isabel sentia que necessitava, nascidas daquele sentir simples que David desconhecia e que lhe aprazia.
Isabel começou a trabalhar numa retrosaria, continuava em casa dos seus tios e mantinha por perto a presença de David. Ele ensinou-lhe a ver outro lado da vida, que se perdia nos cafés, nas noites aclaradas pelo brilho das iluminações citadinas. Ensinou-lhe o riso forçado que se consegue apenas quando o coração consegue mentir nas coisas que sente.
Quanto mais conhecia o David, mais se acreditava que estava a viver uma história baseada na novidade, na sabedoria, e no deslumbramento que ele lhe causava. No entanto, passaram-se os dias, os meses... Isabel, que havia decidido tomar o seu destino nos braços, quanto mais conhecia daquela vida, menos se identificava com ela. Lentamente, João foi voltando a ocupar espaço no seu pensamento. Voltou a lembrar as noites iluminadas pelas estrelas, voltou a recordar a sua pele marcada pelas lides do mar. Recordou as suas mãos calejadas das redes, mas que tanto a haviam acalentado em momentos de dor sentida. Relembrou os risos sinceros, de quem sorri apenas quando a alma dita e o coração pede.
Houve um dia, em que a saudade fez um apelo maior. Decidiu que o seu destino iria passar pela felicidade de ter a seu lado o Amor que sempre estivera perto, mas que agora se fazia distante. Sabia que não iria querer perder o João. Já tinha perdido demasiado da vida, já tinha perdido tempo demais. Era hora de retornar ás origens e afastar os fantasmas da sua vida. Um apelo vindo do peito, indicava-lhe o caminho de retorno a Nazaré.
Nesse dia, ela despediu-se dos tios e do David, deixando em aberto a possibilidade de voltar, caso as coisas não lhe corressem de feição. David, sabia, desde sempre que este seria o desfeche da história de Isabel. Sabia, que ela não iria voltar, por ter a certeza, que ela iria ser feliz. Sabia, que Isabel, poria nesse dia um ponto final na sua busca pela alegria.
Isabel partiu!
Durante a viagem os pensamentos não se adensavam na paisagem, não se concentravam nos caminhos, não se detinham nos rostos de quem com ela seguia, convergiam apenas para a figura de João.
Findas duas horas e pouco de caminho, ela chegou.
Foi a casa do João, para saber dele, a mãe de João com os olhos rasos de água indicou-lhe a praia onde ele deveria surgir a qualquer momento.
O entardecer estava lindo, matizado em tons de luz. Isabel desceu á praia, sentou-se na areia e ficou a aguardar surgir no horizonte, a silhueta do barco de João. Finda uma hora, lá se vislumbrou a luz de presença da embarcação que traria João de volta para si. Ela dirigiu-se para a zona de atracagem e aguardou a chegada.
Quando João saiu da embarcação trazendo em braços o quinhão da sua pesca, nem acreditava que fosse Isabel a estar ali. Como ela estava bonita!!! A noite, que tinha feito descer um véu de estrelas, pintava de luz e devolvia a Isabel todos os traços de mulher menina, que anos a fio lhe haviam dado sentido à vida. Ela sorria-lhe, e fazia-lhe sinais para que ele fosse ao seu encontro. João, deixou tudo o que tinha em mãos, e seguiu na direcção de Isabel, apertando-a nos seus braços. Deve ter sido o abraço mais uno que alguém recorda. Enquanto se abraçavam, Isabel sussurrou-lhe saudades, falta e da alegria de tornar a ter. João, nem acreditava que desta vez ela estava de volta para ele. Desta vez, e porque a vida lhe dava esta oportunidade de ver transformados em realidade os seus sonhos, falou-lhe de Amor.
Nessa noite, a praia, foi testemunha da comunhão de corpos que se fundem na Alma. Nessa Noite, a Lua de Prata, definiu a luminosidade daquele leito, que as estrelas abençoaram. Nessa noite, o Amor incondicional tinha ganho, ao tomar forma nos braços e corpos de João e Isabel.
Enquanto o velho autocarro rumava a S. Martinho do Porto, ela despedia-se da terra que a vira nascer, e das memórias que queria aprisionar nesse espaço, que tanto a fizera feliz, mas que lhe havia causado tanta dor e sofrimento.
Recordou os tempos de menina, quando buscava o colo de sua mãe, procurando nela mil afectos, deixando-se embalar pelo som cantado da voz que lhe dava segurança e a envolvia em serenidade. Mais uma vez buscou o seu pai no pensamento. Buscou-lhe o rosto moreno, que sempre havia estado presente em tantos momentos da sua vida. Tentou sentir todos os abraços partilhados numa cumplicidade feita de anos. Ele havia sido a sua perda mais recente, ela ainda não conseguia conter as lágrimas, quando o chamava ao pensamento.
Através da janela do autocarro, vislumbrou João.
João tinha sido o seu amigo de sempre. O que tinha convertido o seu pranto em sorrisos, o que estivera sempre presente em todas as suas dores. Aquele que teimava em ficar presente em todos os instantes da sua vida, especialmente naqueles em que as palavras faltam mas onde a presença dizia mais que mil palavras.
Recordava os areais que trilharam juntos, partilhando apenas com as estrelas os segredos da alegria que sentia quando o sabia por perto. Sentia que tinha começado a conhecer a vida pelas suas mãos, tanta era a entrega, tanta a beleza que via nos seus olhos. Os olhos de João, castanhos e amendoados, permitiam que ela conseguisse ver-se reflectida neles. Muitas vezes julgou que eram dela aqueles olhos que brilhavam para si.
Era certo que o amava. Amou-o como menina, quando buscava a sua mão em jeito de desafio e depois corriam juntos, por aquela praia, que parecia infinita. Amou-o como mulher menina, quando buscava em outros homens, aquilo que João não lhe dava, mas que ela sabia fazer-lhe falta. Nessa data, teve a certeza que João jamais a amaria. Soube que ele permaneceria do seu lado como fazem todos os grandes amigos, mas que jamais a procuraria para a fazer sua, de corpo e Alma. Amou-o como mulher, quando desejou que ele a tivesse e partilhasse a sua vida com ela.
Não conseguia definir o quanto amava, sabia no entanto, que João era parte da sua vida.
Foram tantos os dias em que ela imaginou que ela a buscava. Foram tantos os dias em que ela os imaginou juntos numa entrega que apenas os seres que se fundem na Alma conseguem...Foram tantos os dias em que esperou, com o coração nas mãos o seu regresso desse Mar que tanta dor lhe causara. Tantas vezes ao ver surgir ao largo o seu barco, havia agradecido a Deus que o seu João estivesse a salvo...
Enquanto os pensamentos a envolviam, ela chegou ao seu destino. Esperavam-na os tios Fernando e Magda, que a acolheram de imediato, num abraço fervoroso. Ela abandonou os pensamentos e caminhou rumo à sua nova vida, certa, que essa mudança alinharia o seu horizonte, e pintaria os seus viveres de novas cores. Iria iniciar uma nova fase, e estava determinada a ser feliz, era isso que desejava, era isso que iria conseguir para si.
Nesse dia, á hora do jantar, conheceu o David. David, vivia num quarto alugado e partilhava a casa dos seus tios. Rapaz da cidade, de aparência bonita, trajando de forma simples mas cuidada, de conversa fácil e de onde se deduzia uma grande riqueza do saber. Durante esse jantar, depois de feitas as apresentações, os olhares de ambos cruzaram-se algumas vezes. Nos olhos do David visualizavam-se sorrisos, que alternavam com expressões faciais de traçado fino, acentuadas pela tez clara e macia.
Desde esse dia, que se permitiram cumplicidades, nascidas da urgência de partilha que Isabel sentia que necessitava, nascidas daquele sentir simples que David desconhecia e que lhe aprazia.
Isabel começou a trabalhar numa retrosaria, continuava em casa dos seus tios e mantinha por perto a presença de David. Ele ensinou-lhe a ver outro lado da vida, que se perdia nos cafés, nas noites aclaradas pelo brilho das iluminações citadinas. Ensinou-lhe o riso forçado que se consegue apenas quando o coração consegue mentir nas coisas que sente.
Quanto mais conhecia o David, mais se acreditava que estava a viver uma história baseada na novidade, na sabedoria, e no deslumbramento que ele lhe causava. No entanto, passaram-se os dias, os meses... Isabel, que havia decidido tomar o seu destino nos braços, quanto mais conhecia daquela vida, menos se identificava com ela. Lentamente, João foi voltando a ocupar espaço no seu pensamento. Voltou a lembrar as noites iluminadas pelas estrelas, voltou a recordar a sua pele marcada pelas lides do mar. Recordou as suas mãos calejadas das redes, mas que tanto a haviam acalentado em momentos de dor sentida. Relembrou os risos sinceros, de quem sorri apenas quando a alma dita e o coração pede.
Houve um dia, em que a saudade fez um apelo maior. Decidiu que o seu destino iria passar pela felicidade de ter a seu lado o Amor que sempre estivera perto, mas que agora se fazia distante. Sabia que não iria querer perder o João. Já tinha perdido demasiado da vida, já tinha perdido tempo demais. Era hora de retornar ás origens e afastar os fantasmas da sua vida. Um apelo vindo do peito, indicava-lhe o caminho de retorno a Nazaré.
Nesse dia, ela despediu-se dos tios e do David, deixando em aberto a possibilidade de voltar, caso as coisas não lhe corressem de feição. David, sabia, desde sempre que este seria o desfeche da história de Isabel. Sabia, que ela não iria voltar, por ter a certeza, que ela iria ser feliz. Sabia, que Isabel, poria nesse dia um ponto final na sua busca pela alegria.
Isabel partiu!
Durante a viagem os pensamentos não se adensavam na paisagem, não se concentravam nos caminhos, não se detinham nos rostos de quem com ela seguia, convergiam apenas para a figura de João.
Findas duas horas e pouco de caminho, ela chegou.
Foi a casa do João, para saber dele, a mãe de João com os olhos rasos de água indicou-lhe a praia onde ele deveria surgir a qualquer momento.
O entardecer estava lindo, matizado em tons de luz. Isabel desceu á praia, sentou-se na areia e ficou a aguardar surgir no horizonte, a silhueta do barco de João. Finda uma hora, lá se vislumbrou a luz de presença da embarcação que traria João de volta para si. Ela dirigiu-se para a zona de atracagem e aguardou a chegada.
Quando João saiu da embarcação trazendo em braços o quinhão da sua pesca, nem acreditava que fosse Isabel a estar ali. Como ela estava bonita!!! A noite, que tinha feito descer um véu de estrelas, pintava de luz e devolvia a Isabel todos os traços de mulher menina, que anos a fio lhe haviam dado sentido à vida. Ela sorria-lhe, e fazia-lhe sinais para que ele fosse ao seu encontro. João, deixou tudo o que tinha em mãos, e seguiu na direcção de Isabel, apertando-a nos seus braços. Deve ter sido o abraço mais uno que alguém recorda. Enquanto se abraçavam, Isabel sussurrou-lhe saudades, falta e da alegria de tornar a ter. João, nem acreditava que desta vez ela estava de volta para ele. Desta vez, e porque a vida lhe dava esta oportunidade de ver transformados em realidade os seus sonhos, falou-lhe de Amor.
Nessa noite, a praia, foi testemunha da comunhão de corpos que se fundem na Alma. Nessa Noite, a Lua de Prata, definiu a luminosidade daquele leito, que as estrelas abençoaram. Nessa noite, o Amor incondicional tinha ganho, ao tomar forma nos braços e corpos de João e Isabel.
6 comentários:
Que linda história de amor....
Muito bonito.
excelente historia, no seguimento da I parte, adorei ler, os meus parabéns a (os) autor (es)
Madrinha ... e (claro!) MIB:
Dizer-vos que está aqui um conto lindo seria redundante e repetitivo, ante a previsão dos comentários que seguramente aqui serão deixados...
Apenas quero-vos dizer que fiquei enternecida porque, afinal, quando nos deixamos marcar por Aquele Sentimento, a presença dele é indelével, ainda que por momentos da vida vivamos outras realidades, outras cores...
Por isso nos custa tanto esquecer o que é, por natureza, inesquecível...
Beijos e um sorriso imenso para os dois
Conto muito bonito e muito bem escrito. Um abraço de parabéns ao Homem de Negro que considero um artista da escrita.
Fim encantador... muito bonito. Beijos aos dois pela harmonia com que escrevem.
amiga......sabe-me a boca ao travo salgado do mar que nos banhou a ambas em estórias infnitas...como te disse, não consigo sequer comentar....achas que uma lágrima se escreve assim?
Beijo
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